Lixo no lixo?

Existe uma série de conceitos dando voltas por aí que são apenas heranças de tempos desventurados. Palavras que por algum motivo estranho não entram em desuso, enquanto outras sim. Uma justificativa para o desuso pode ser de fundo tecnológico, como quando profissões deixam de existir (datilógrafo, leiteiro, telegrafista), enquanto outras emergem (analista de mídias sociais, gestor de logística reversa, UX designer). No caminho das expressões em desuso, percebo um movimento um pouco tímido para decretar o fim da palavra “lixo”, mas considero louvável. Os resíduos sólidos ainda são vistos como algo insalubre, e nem estou falando de matéria orgânica em putrefação, pode ser a latinha que acabou de voar pela janela do ônibus, e você foi cúmplice. Se não for pago pela prefeitura é muito difícil que tenha ânimo de juntá-la para que tenha um destino mais coerente. Convivemos com uma série de entraves culturais, entre eles: o nojinho. Eu cresci em apartamento, sei do que estou falando. E, como designer, lanço a hipótese de que essa aversão – em cada um – é inversamente proporcional ao desejo material no momento do consumo. E mais, se tratarmos melhor o nosso material reciclável é possível que comecemos a desnaturalizar esse atual caráter de inservível.

Uma dica: em lugar de usar uma lixeira para resíduos secos use uma caixa de papelão, mas não abandone ao lado dos orgânicos, organize por materiais se tiver paciência, mantenha-os limpos. Pode parecer uma insanidade, mas quem recicla com certeza vai apreciar essa sua ação.

(A foto é dos alemães do Njustudio)