Designer, eu? Nunca.


Existem relatos românticos de profissionais que tecem algum tipo de cronologia de suas vidas para contar como sempre souberam o que iriam “ser quando crescer”. Forçando a barra o discurso convence, mas confesso: nunca quis ser designer. Lembro-me de querer (por talvez uns 40s) ser médica como a minha mãe, e não só médica: pediatra. Quando eu era pequena gostava de crianças, prova disso é uma caixa de recortes que eu coletava de revistas e jornais. Havia uma série de fotos e ilustrações de bebês e brinquedos. Eu gostava bastante. E não só gostava de crianças como também, mais tarde, na primeira série (uh!), percebi que ensinar era encantador e pensava em ser professora. Nas reuniões de Pais e Mestres descobri Piaget e o Construtivismo na Educação, por isso aproveitava para testar com a minha irmã mais nova algumas metodologias.

Acho que com uns oito anos, quando ia às aulas de balé, eu já pensava em outras coisas. Imersa naquele universo de ensaios, maquiagem, figurino e cenografia eu tinha a certeza de que queria ser bailarina clássica. Mas não durou muito. Comecei a crescer e me sentia um "patinho alto" no meio do corpo de baile. Não era pra mim, eu deveria é ser modelo de passarela. Comecei a conhecer o meio das agências de moda e o que parecia divertido de longe (viagens, fotos, roupas), de perto não era tão interessante. Eu gostava de foto, mas não me sentia bem sendo fotografada. Gostava dos desfiles, mas me sentia julgada pela observação de todos. Eu não sabia dissimular. Incomodava-me por ser tímida: entrei em um curso de teatro. O resultado dessa experiência foi mais interessante que o anterior, entretanto não deixei de ser tímida. Lembro que embaixo de toda a caracterização do personagem eu me sentia um pouco mais cômoda, mas ainda não era o que eu queria “ser”.

Em paralelo, com a iminência da formatura da escola, escolher uma formação acadêmica era um dever. Pensei bastante. E em um processo de eliminação das profissões que eu realmente não encararia acabei decidindo por Arquitetura. Parecia perfeito (ah, esqueci de dizer: como 90% das crianças do planeta eu gostava de desenhar). Como sempre morei em apartamento, tinha uma obsessão por projetos de ambientes residenciais. Olhava as plantas que saíam nos anúncios do caderno de imóveis e fazia as minhas próprias casas, além de idealizar novas disposições para utilizar melhor o espaço escasso onde vivia. Faltava passar no vestibular. Só esqueci das exatas e perdi o trem dos arquitetos. Em contrapartida, ganhei um ano inteiro para me impregnar de alguma nova certeza.

Antes de me formar havia feito um teste vocacional que apontava para Artes, Audiovisual, Desenho Industrial, Artes Cênicas e Arquitetura. Com as facilidades da internet, além da saga dos recortes, podia pesquisar e me informar sobre cursos de várias universidades. E foi assim que aconteceu. Pensava em Estilismo, mas não encontrava o curso em nenhuma universidade gratuita, busquei desenho industrial, e em uma nota de jornal recebi tudo muito bem mastigado: UFSM e UFPel. Como não poderia deixar de tentar a UFRGS me inscrevi no vestibular para Artes Visuais. Qual não foi a minha surpresa depois do teste de desenho de observação exigido aos postulantes a artista  quando a federal do RS decretou: você não sabe desenhar. Fiquei com a segunda opção que havia escolhido meio às pressas, por eliminação: Publicidade e Propaganda.

O primeiro processo seletivo foi em novembro, para Licenciatura em Artes Visuais – habilitação em Desenho e Computação Gráfica, na UFPel. Eu não sabia o que era uma Licenciatura. Não lembro bem se foi antes ou depois do vestibular que recebi um comunicado do curso que informava sobre a necessidade de modificar a habilitação que eu havia escolhido, já que a Licenciatura ia deixar de existir por questões de falta demanda. Nada contra ser Bacharel nas habilitações plásticas, mas escolhi o Design Gráfico. Aprovei. Fim.

Sério. Eu gostava (a ainda gosto) de o que todo jovem (desse tempo) gosta: cinema, música, hq, animação. E meus recortes não me deixam mentir. Foi assim, meio sem querer. Comecei a cursar e vi que havia sido uma boa escolha. Sempre quis ser tanta coisa, mas designer não. Nunca.